quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Férias

“Todos nós precisamos de férias. Parar o óbvio. Desligar o piloto automático. Mudar a rotina. Conhecer outros lugares e pessoas. Quando conseguimos sair de férias, voltamos renovados e leves, trazendo um universo de possibilidades. Meditar é como tirar férias. Mas para isso não precisamos ir a lugar algum. Basta levar o pensamento para outra escala, o ilimitado. Ver o mundo lá do alto. Olhar para as situações de outro ângulo e com desapego. Descobrir que lá em cima somos intocáveis, eternos e indestrutíveis. Quando conseguimos experimentar uma micro-férias assim, retornamos mais frescos, animados e criativos.”

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mudança de rumo

"O que é realmente importante na vida é obter um quadro real da situação, seja ela qual for." Winston Churchill "O verdadeiro arrependimento atinge a vontade. Apenas a consciência do erro e a correspondente tristeza não são suficientes. É preciso exercitar a vontade. Se apenas há a lamentação da sua condição, há a permanência na pocilga e o padecimento. Mas se, se volta e encontra o abraço da reconciliação, há festa. Você já se arrependeu de quem você é e do que você tem feito? Você tem produzido frutos dignos de arrependimento? Ou você ainda se deleita naquilo que é abominável?" Formatado por: Antonio Guerreiro Reformatado por: Simone Camargo

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Doçura

“Uma pessoa que tem sensibilidade é capaz de adoçar os segredos internos do coração e extinguir o fogo da raiva e dos humores negativos que corrompem a consciência. Ter raiva é o maior sentimento de fraqueza que alguém pode demonstrar e o maior sinal de derrota contra si mesmo. Portanto, a doçura verdadeira torna-se visível através do saber e de um coração misericordioso capaz de sentir o outro. Sabedoria e sensibilidade, juntas, revelam aos outros a especialidade da doçura e grandeza real.” António Sequeira

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Silêncio

"Fim de tarde, depois do trovão, o silêncio é maior." O silêncio é bom mas, às vezes é amendrotador. Silêncio interno, obriga-nos a refletir sobre nossas ações, e sofrer. Solidão, palavra que leva só, que leva sol (que lindo), que leva dão, mas às vezes não inclui mais de um, leva lida, lidar talvez, leva si, são (de sanidade). Adoro distranchir as palavras e ver as letras que as compõem. Solidão não é bom, diferente é quere estar só. Solidão é triste. Ainda acho que as pesoas não entram em seus íntimos e dialogam consigo mesmas, por isso não encontram uma dor necessária. Não julgo, também faço isso, mas ela me pega de jeito e me faz estar só nos meus pensamentos, na minha dor. Não quero escrever mais agora, a solidão continua, mas não quero que me arrase. Quero assistir um filme e sonhar, dividir a vida dos personagens com a minha. Simone Anjerosa de Almeida Camargo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"Trabalhei cuidadosamente para não ridicularizar, lamentar ou execrar as ações humanas, mas para compreendê-las; e para isso considerei as paixões... não como vícios da natureza humana, mas como propriedades, tão pertinentes a ela como o calor, o frio, a tempestade e o raio o são para a natureza da atmosfera." Espinosa em Tratado Teológico-Político, 1986

Centro

“Seria o tempo e o espaço um ciclo? Sendo assim, em qualquer ponto da roda do tempo o passado é futuro, o futuro é passado. E o presente um encontro dos dois, quando tudo está contido em um momento singular e infinito chamado agora. Esse lugar é o coração da nossa consciência onde simplesmente observamos tudo que acontece ao redor, sem julgamento ou desejo de corrigir o que estamos vendo. Assim como o centro da roda fica imóvel, enquanto tudo gira ao redor dela, é retornando ao centro na nossa consciência e sendo serenos que nos permite ver a verdade.” Mike George, Return to the Centre, Clear Thinking.

Sabedoria

“Sabedoria é conhecimento do perigo, mas sem nenhum medo. É a capacidade de localizar uma curva a distância, uma passagem estreita, a possibilidade de uma colisão; é parar e esperar em paz até que algo passe. Falta de sabedoria é continuar na esperança de que tudo de certo." Anthea Church

Amor

"A alma deveria ser tão limpa quanto uma agulha. Se o olho da agulha está enferrujado, nada pode passar. Deixe-me ser tão limpo que o fio sutil do amor de Deus possa passar através de mim, alinhavando-nos todos juntos. Quando uma pessoa está fraca ela precisa de força e poder para ficar de pé. Do mesmo modo, a alma precisa do poder do amor e entendimento para ficar de pé por conta própria. Espiritualidade é também chamada de amor. Antes de tudo, aqueles que estão sem poder precisam receber o poder do amor." Dadi Janki

Alegria

ALEGRIA "Alegria é uma de minhas virtudes originais. Mesmo estando presente, talvez ela esteja coberta de pó. Porém, quando começo a usá-la e experimentá-la, nada me abala mais. A alegria me permite voar acima das situações complexas e me faz vê-las como pequenas trivialidades abaixo de mim, como se eu estivesse observando tudo de um avião. A alegria me permite enfrentar pessoas em estado negativo, não com brigas ou discussões, mas com amor e compreensão, ajudando elas a se libertar de suas próprias cargas. Alegria é poder." Nícolas Dan Buis
"Há momentos da nossa vida em que os ventos parecem contrários. Nada dá certo! Nada funciona! Tentamos, tentamos, mas não vamos a lugar nenhum, porque os ventos nos são contrários. Esta é a conclusão a que chega Lucas pelo fato de que nada estava dando certo na viagem de Paulo, que queria chegar a Roma, mas não estava indo a lugar nenhum. Dois anos e meio preso, jogado de um lado para o outro, a vida andando em círculos, patinando, seus dias resumiam-se à vida monótona de uma cadeia. Finalmente, parecia que tudo ia dar certo: ele conseguiu embarcar em um navio que estava partindo para Roma. Diz o texto que os ventos voltaram a soprar contrário e a viagem de Paulo tornou-se mais um problema, mais uma dificuldade e mais uma provação. O que fazer quando tudo parece conspirar contra a nossa vida? O que fazer quando, por mais que tentemos nós, não conseguimos ir a lugar nenhum? O que fazer quando em nossa vida os ventos sopram contrário, os céus estão blindados, Deus parece estar silente e o nosso barquinho começa a ser açoitado pelas ondas da vida? Esse texto nos dá algumas dicas preciosas para enfrentarmos esses momentos de crise: Devemos reavaliar as nossas prioridades. A crise tem esse efeito didático em nossas vidas. Ela nos leva a reavaliar as nossas prioridades. E é exatamente isso o que Paulo e seus companheiros de viagem fazem naquele momento crítico da viagem. Diz o texto que eles não tiveram receio de jogar fora os seus pertences (vv. 18, 19 e 38). A crise nos leva a reavaliar as nossas prioridades. Ela nos faz ver aquilo que realmente é importante e aquilo que não é importante. Então quando o barco da nossa vida estiver sendo açoitado, é hora de rever as prioridades, é hora de jogar ao mar aquilo que não tem muito valor e nos agarrar àquilo que realmente importa. Devemos nos agarrar às promessas iniciais de Deus. O navio estava sendo açoitado de um lado para o outro, todo mundo desesperado, mas havia alguém sereno dentro do barco. Quem era? Paulo. Porque ele tinha uma promessa inicial de Deus, dita pelo anjo que aparecera para ele na noite anterior: ele, apesar de todas as dificuldades, iria chegar a Roma para testemunhar Cristo perante César. Os ventos eram impiedosos, o navio estava se partindo, mas Paulo estava sereno porque sabia que Deus jamais deixou de cumprir as Suas promessas. Portanto, quando o barco de sua vida não estiver indo a lugar nenhum por causa dos ventos contrários, agarre-se às promessas de Deus, porquanto são infalíveis. Devemos lembrar que Deus não promete sermos poupados de sofrer, mas promete sermos poupados no sofrer. Um anjo do Senhor aparece para Paulo, consola-o e anima-o. Porém, não o saca da tempestade. Dá ânimo, mas não lhe poupa do sofrer. E aqui está o nosso privilégio em termos fé. Deus não nos poupa DE sofrer. Deus nos poupa NO sofrer. Não nos dá pernas ágeis para correr, nos dá ombros largos para suportar o peso da cruz. Quando o barquinho das nossas vidas estiver sendo açoitado pelos ventos que nos são contrários, devemos sempre nos lembrar dessas verdades que nos dão a certeza de que nossas vidas estão seguras nas mãos do nosso Deus e que toda crise obedece a um propósito determinado dentro de Seu plano eterno."

Silêncio

“É quando silenciamos o bate-papo da mente que podemos ouvir o que existe no nosso coração e encontrar quietude e clareza. Amor espiritual nos leva ao silêncio do estado original e natural. O silêncio contém o poder para criar harmonia em todos os relacionamentos e a doçura de sustentá-los. É quando estamos em silêncio que podemos deixar Deus entrar e nos preencher de paz, amor e poder.”

Vende-se tudo

"No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: - Que coisa triste ter que vender tudo que se tem. - Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida. Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes... O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros... Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material... Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza. ... Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!" Martha Medeiros

Self

"Liberta do enredo banal e afastada de todo ruído, deslizei na longa cova em espiral da mina de diamantes. Descobri o carbono puro envolto em lama, lavei, clivei, poli, realcei o foco, liberei os reflexos. Só, então, admirei os brilhantes: um deles, reconheço, sou eu, e é minha aquela luz lançada da estrela distante." Tereza Lourenço

Meditação

Imagine um diamante, dentre todas, a pedra mais preciosa. Se intempéries o fizerem rolar sobre diversos terrenos, terra, areia e poeira irão cobrir seu real valor. O diamante ficará oculto sob as camadas de impurezas. Nós somos como diamantes, cujo brilho foi sendo escondido pelas marcas do tempo. Tempo que nos fez esquecer nossa verdadeira identidade. Meditar é limpar as impressões deixadas na superfície da alma e permitir o vislumbre do nosso próprio brilho original.

Persistência

Um homem investe tudo o que tem numa pequena oficina. Trabalha dia e noite, inclusive dormindo na própria oficina. Para poder continuar nos negócios, empenha as jóias da própria esposa. Quando apresentou o resultado final de seu trabalho a uma grande empresa, dizem-lhe que seu produto não atende ao padrão de qualidade exigido. O homem desiste? Não! Volta a escola por mais dois anos, sendo vítima da maior gozação dos seus colegas e de alguns professores que o tachavam de "visionário". O homem fica chateado? Não! Após dois anos, a empresa que o recusou finalmente fecha contrato com ele. Durante a guerra, sua fábrica é bombardeada duas vezes, sendo que grande parte dela é destruída. O homem se desespera e desiste? Não! Reconstrói sua fábrica mas, um terremoto novamente a arrasa. Essa é a gota d'água e o homem desiste? Não! Imediatamente após a guerra segue-se uma grande escassez de gasolina em todo o país e este homem não pode sair de automóvel nem para comprar comida para a família. Ele entra em pânico e desiste? Não! Criativo, ele adapta um pequeno motor a sua bicicleta e sai as ruas. Os vizinhos ficam maravilhados e todos querem também as chamadas "bicicletas motorizadas". A demanda por motores aumenta muito e logo ele fica sem mercadoria. Decide então montar uma fábrica para essa novíssima invenção. Como não tem capital, resolve pedir ajuda para mais de quinze mil lojas espalhadas pelo país. Como a idéia é boa, consegue apoio de mais ou menos cinco mil lojas, que lhe adiantam o capital necessário para a indústria. Encurtando a história: hoje a Honda Corporation é um dos maiores impérios da indústria automobilística japonesa, conhecida e respeitada no mundo inteiro. Tudo porque o Sr. Soichiro Honda, seu fundador, não se deixou abater pelos terríveis obstáculos que encontrou pela frente. Portanto, se você adquiriu a mania de viver reclamando, pare com isso! O que sabemos é uma gota d'água. O que ignoramos é um oceano. (...) Nosso dia não se acaba ao anoitecer e sim começa sempre amanhã, não desanime, vamos acordar todo dia como se tivéssemos descobrindo um mundo novo.
"Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão. Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas. Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, têm duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha. Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas. “Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”. Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor. Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou. Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre. A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem. A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói. Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome? A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade. Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda. Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos. Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer. Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha. Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil." IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Palavras insurgentes

”A vida, sempre imprevista, sempre renovada não se pode acomodar, com condições elaboradas em um tempo que não mais existe" (Élisée Reclus). "Libertário, é assim que há muitos entre nós se qualificam de bom grado, ou então 'harmonistas' por conta do acordo livre de vontades que, depois formaremos a sociedade futura; mas esses nomes não nos diferenciam suficiente dos outros socialistas. É a luta contra o poder oficial que nos distingue essencialmente” (Élisée Reclus). “Quanto a mim, faço um juramento: serei fiel à minha obra (...). (Proudhon). “O Estado tem sempre uma única finalidade: limitar o indivíduo, refreá-lo, subordiná-lo, fazer dele súdito de uma ideia geral; só dura enquanto o indivíduo não for tudo em tudo, e é apenas a mais marcada expressão da limitação do meu eu, da minha limitação e da minha escravidão” (Stirner). "Fora da ação direta, só um método existe: o colaboracionismo, o reformismo, as eleições com vistas ao poder, numa palavra: ação indireta. [...] Ação direta designa a convicção firme (dos anarquistas) de não lutarem por procuração, de jamais confiarem nas blandícias do lobo-Estado, por sabê-lo sempre traidor, mentiroso e cruel" (José Oiticica). “... os homens de hoje, o instinto enfraquecido, perdem, mesmo se conservando vivos, até a poeira de seus nomes” (rené char). “Assim como você me quer, eu não quero ser sua” (mujeres creando). “Para comover os surdos, para chamar a atenção daqueles que não querem ouvir a voz, é preciso o estampido de uma detonação" (auguste vaillant). “Hoje o campo está aberto à ação, sem fraquezas ou desistências” (émile henry).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Miscelânias...

"(...) Eu não sou difícil de ler, é só mistério, não tem segredo, a água é potável daqui você pode beber, meu infinito particular, eis o pior e o melhor de mim, faça a sua parte, eu não sou de Marte, se perca ao entrar no meu infinito particular, sou pequenina e gigante em alguns instantes." "(...) Quase, quantidade, qualidade quis se expressar, apenas mental, lado do sal, mel, coisa quase ideal, mar, calor, inspiração, arte, saber, invenção, teoria, cântico dos cânticos, quântico dos cânticos, cânticos dos quântidos, momento desfaz, Deus." "Dia após dia começo a encontrar, mais de mil maneiras de amar. Pôr do sol e a claridade. Sem pecado e sem juízo. Todo dia livres dois passarinhos cantar pra esse amor estar sempre feliz (...)" "Olha você tem todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim, a cabeça cheia de problemas, não importa, eu gosto mesmo assim. Os olhos cheios de esperança, de uma cor que ninguém mais possui. Olha você vive tão distante, muito além do que eu posso ter, eu que sempre fui tão incostante... Olha vem comigo aonde eu for, ser o meu amante e meu amor, vem seguir comigo o meu caminho, e viver a vida só de amor." "Sai da minha frente que eu quero é passar. Mas que nada ... você não vai querer que eu chegue no final. O que eu quero é sambar. Samba de Maracatu (...)" "Não quero nada que não venha de nós dois, queria tanto te trazer aqui... não há nada que ponha tudo em seu lugar, eu sei, o meu lugar esta aí. Não vejo nada mesmo quando acendo a luz, as plantas crescem em nosso jardim pra te mostrar porque, não há nada que ponha tudo em seu lugar, eu sei, meu lugar está aí."

Perguntas de um trabalhador que lê

"Nos livros vem os nomes dos reis, mas foram os reis que transportaram as pedras? Babilônia, tantas vezes destruída, quem outras tantas a reconstruiu? No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde foram os pedreiros? A Grande Roma está chiea de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio só tinha palácios para os seus habitantes? Em cada página uma vitória. Quem cozinhava os festins? Em cada década um grande homem. Quem pagava as despesas? Tantas histórias, quantas perguntas." Brecht

Viver com as flores

— Mestre, como faço para não me aborrecer, com as pessoas? Algumas falam demais, falam de nossa vida, gostam de fazer intriga, fofoca, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes. Fico magoado com as que são mentirosas. Sofro com as que caluniam. — Pois viva como as flores! – advertiu o mestre. — Como é viver como as flores? – perguntou o discípulo. — Repare nestas flores – continuou o mestre, apontando lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Extraem do adubo mal cheiroso tudo o que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas. É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora. Isso é viver como as flores.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A doença de ser normal

"Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito “normal” é magro, alegre, belo, sociável, e bem sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se “normaliza”, quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha presença através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for “todos”. Melhor se preocupar em ser você mesmo. A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras instintivamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu “normal” e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada. Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes."

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Resiliência

Tente mover o mundo – o primeiro passo será mover a si mesmo. Platão "O ser humano pode ser considerado como a criatura mais elástica da face terrestre. O homem pode traçar os caminhos que desejar, pode refazer rotas e também pode construir ou desfazer objetos. A experiência do homem sobre a Terra sempre foi de duelos, sejam eles materiais ou emocionais. Luta-se contra o poder da natureza como também contra o poder dos pensamentos negativos. Em uma palavra: flexibilidade. O ser humano tem o princípio fundamental da elasticidade. Certas experiências e forças sociais “esticam” nossa sensibilidade para lugares que nunca imaginaríamos. Experiências dolorosas como a morte de parentes, a perda de um bom emprego ou a perda de amigos queridos podem fazer com que este princípio de elasticidade seja perdido, deformado ou esquecido. Para reativar esta maleabilidade (que é um dom de nascimento) criaram o termo resiliência. Trata-se de um padrão de comportamento que, mais do que nunca, deve ser exercitado por todos nós, devido ao ambiente de desafios em que vivemos, seja na organização, seja na vida pessoal. O termo é originado no latim e significa “voltar ao estado natural”. Sendo assim, por analogia, ela é a capacidade adquirida de recuperação que o ser humano pode exercer quando passa por um trauma ou por uma perda grave. O tempo todo passamos por desafios: perdemos amigos, empregos, objetos e pertences que gostamos e que muitas vezes têm valor sentimental para nós. Mas o que é ainda pior é que perdemos, com essas coisas, nossa estabilidade no mundo. Logo, a resiliência é o salva-vidas de nossa estabilidade, pois ela, ao invés de nos fazer fugir dos desafios, convida-nos a encará-los com medidas planejadas e conscientes. O leitor está familiarizado com a expressão popular: “dar a volta por cima”. Desta maneira fica mais fácil entender o termo. Uma pessoa resiliente é aquela que exerce, com uma proposta mais imperativa, a competência emocional do autoconhecimento. Nada está mais próximo do ato de se conhecer bem do que arcar com um desafio e tirar dele um ensinamento para recomeçar. Na verdade, dizem que o verdadeiro resiliente é aquele que não espera uma crise acontecer; ele se antecipa, porque está fundamentalmente conectado ao mundo, percebe os sinais do possível fracasso e usa todos os meios para controlar a situação. Assim, quando um problema grave vem bater à sua porta, já existe uma atitude sendo planejada. Uma medida legítima de autoconhecimento é não deixar um desafio dominar a situação e criar a obscuridade da indecisão. A coisa mais fácil do mundo é se desesperar. Por estranha que pareça esta afirmação, devemos considerá-la como o lado oposto da resiliência. O desespero é o extremo oposto do autoconhecimento e da automotivação. Quem se desespera não se conhece e, por isso, o mundo parece sair dos trilhos, parece ficar maior do que é. Contra o desespero causado por uma perda ou uma situação desagradável, as pessoas precisam conquistar novas atitudes para lidar com a vida. Sendo assim, a resiliência, além de ser o antídoto que restaura a elasticidade dos homens, é também uma proposta de autoconhecimento. O desespero acontece quando: não administramos emoções; não controlamos impulsos; não temos otimismo; não mapeamos nosso ambiente corretamente; não temos empatia e não ouvimos; não buscamos eficácia na ação. Obviamente, a resiliência é uma proposta elaborada dentro de um contexto sócio-histórico, pois carrega valores e significados. Cada grupo social reconhece suas necessidades mais urgentes e as tarefas que precisam exercer para vencer o desespero. Atualmente, com o ambiente de mudança, fusões, crises, competitividade, negociação e conflitos, esta competência é fator fundamental. (...). Como podemos interpretar nas palavras de Platão, o segredo da sagacidade é saber ser sagaz com os próprios movimentos emocionais. Apenas mudando o micro, poderemos mudar o macro, e a resiliência nada mais é do que um fenômeno positivo de um ser consciente de sua capacidade elástica de encontrar a felicidade e aprender com os desafios." Fonte: Leme Consultoria http://www.lemeconsultoria.com.br

domingo, 12 de setembro de 2010

Onde fica a felicidade?

Ela pergunta-se, acho que vendo-a de dentro e de fora é a pergunta que mais se faz. Me disse que procurou por toda parte, seguindo o ditado que ela "está dentro das pessoas", procurou no fígado, no baço, no estômago, nos rins, no intestino, nos ossos, no aparelho respiratório, no pâncreas, e ainda mais profundamente foi ao cérebro, arriscou mais ainda e foi nas veias, no sangue e não a encontrou. Disse-me que teve a coragem de ir ao coração, e também não a encontrou. E então, como um parafuso a rodar, percorreu dos pés à cabeça, e não a encontrou. Entranhou-se nas suas entranhas mais profundas e caminhos labirintosos, e não a encontrou. Pintou as unhas, arrumou o cabelo, passou batom. Achou que talvez por um instante que pudesse encontrá-la no que aparece para o mundo, mas iludiu-se. No fundo ela disse que sabia que isso seria em vão. Então me disse, triste, que é nas lágrimas, no choro que até não sai mais lágrimas, no sofrimento mais genuíno de seu eu, no contrair-se e fechar-se como uma minhoca, em formato de humano no útero, posição fetal, que ela mais sofre porque não encontra a tal felicidade. E o mais triste é que a menina sofre. Me disse ainda que não sabe se a felicidade foge dela, ou se a felicidade não existe, e mesmo se for dentro ou fora, ela tem uma única certeza, que ela não está, não é. Tenho pena da menina porque não sei se procurará mais a felicidade, ou se a felicidade a encontrará, só queria dizer à menina que às vezes a gente ri, sorri, e chora. Se há felicidade aí, eu também não sei responder. Pensando na menina, e ao escrever a palavra felicidade, pensei em seu sentido. E eu me perguntei: De onde vem? Quem inventou? E me respondi que talvez se a palavra não existisse, a menina não passaria tanto tempo sofrendo acreditando que possa encontrá-la pois, ela só busca essa tal felicidade porque ela foi inventada. Inventanda talvez por alguém bem infeliz. Simone Anjerosa de Almeida Camargo

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mercadão das almas

“Porque os anjos têm asas como as aves. Porque os homens têm pelos como os bichos. E todos nós temos alma como Deus!” (São Francisco de Assis) Há homens morrendo em todos os cantos do planeta. Mortes horrendas, desnecessárias. E há homens que, enquanto não morrem, assistem ao espetáculo da violência, faces da morte distribuídas por canais de TV, pedaços de corpos disputados por jornais e revistas. É este o programa da família. Crianças acostumadas, desde a mais tenra idade, ao sadismo de seu semelhante. Será esse o motivo? Eu procuro um motivo que justifique a frieza do homem diante do sofrimento do outro, seja lá que outro for. Foi assim com Sócrates, Cristo, Zumbi, Gandhi, Martin Luter King, Tiradentes, Lennon, garotos arremessados de um trem em movimento e tantos outros que, a seu modo, exerciam ou lutavam pela liberdade e pela paz, mas foram premiados com a cruz, com a faca, com a bala, com a bomba, com a tortura, carentes de inteligência e de sanidade. Quais são mesmo os motivos? Ainda não sei. Ser humano sem humanidade? É um triste paradoxo. Como se um peixe que não soubesse nadar, como uma águia que se recusasse a voar. Estou perplexa. Aqui, no Mercado da Cantareira, em São Paulo, acompanhada de meu amigo Christopher, essas interrogações me invadem. Esses porquês. Como é que esses homens, sem humanidade, vão-se comover com animais amontoados em gaiolas, implorando por socorro, por misericórdia? Há, por exemplo, um box especializado em venda de animais para rituais religiosos. Há pequenos bodes, cabritos e galos pretos à espera do sacrifício. Os primeiros nem lutam mais pela vida. Chegaram a lutar antes de entrar num caminhão, a milhares de quilômetros daqui. Chegaram a lutar dentro do caminhão – com berros, com chifradas – por ar, por água, por comida. Agora, presos numa cela de azulejos brancos, eles se ferem um aos outros. Estão cegos, paralisados pelo medo e pela dor. Acaricio a cabeça de um deles, que não reage. Parece um animal empalhado. Só sei que está vivo porque o corpo esquelético respira. Uma pessoa se aproxima. Olha os galos pretos, que gritam inconformados. Eles são valentes. Ela escolhe um. O dono do box – um homem branco, gordo, com uma expressão tão fria quanto a de um manequim de loja (terá filhos? terá um amor?) – o dono do box abre a gaiola e agarra o animal pelas pernas. O galo bem que tenta reagir: grita, bate as asas, imponente. O dono, então, levanta-o e, com precisão, arremessa sua cabeça contra a parede. Não, o bicho não morre. O homem é “bom” no que faz. Deixa-o em estado de choque, entre a vida e a morte. Porque seu novo dono o quer vivo: o ritual exige seu sangue quente. O funcionário do box, mais falante, diz que tem dó dos bichos. Mas o que se há de fazer? “Nós cuidamos deles, passamos remédio nos olhos feridos. Mas eles se ferem novamente”, explica o rapaz, o erro dos bichos. Chega? Não. Há também os coelhos. Um deles, cujo valor foi estabelecido em trinta reais, lambeu meus dedos quando o peguei no colo. Nunca tinha visto isso. Queria levá-lo comigo; entretanto, Christopher me disse que seria um incentivo à continuidade daquele comércio. Não levei. Hoje, sinceramente, arrependo-me. Eu não queria ver mais nada. Mas ninguém entra num local desses impunemente. É preciso ir ao Mercado Municipal, próximo ao da Cantareira, onde também há animais. Estes, por sua vez, estão todos mortos. São exibidas cabeças de porcos dentro de um freezer transparente com o nome de “Porco Feliz”. E um anúncio grande num outro box, com os dizeres: “temos filhotes de javali”. Sim, tem gente que faz sua ceia de Natal com filhote de javali. Estou cansada. Não aguento mais ver essas fotos nem escrever sobre o que vi. Eu só espero que as pessoas – nas festas de Natal e Ano Novo – valorizem mais o amor do que cadáveres sobre a mesa, façam mais amor do que rituais sangrentos. Porque a vida nos dá o que damos a ela. Só teremos um ano melhor se plantarmos, uma a uma, as sementes dos frutos que queremos colher. Eu desejo a todos vocês que saibam semear com sabedoria." Por Adriana Bernardino

O corpo que te pertence

"Como entender em 2010, muitas mulheres, e mesmo homens, que ousaram experimentar um amor desviado e liberador, defendendo o casamento? Estão dispostos a tornar-se proprietários da vida e do amor um do outro renunciando ao saudável desvio, por um reconhecimento legítimo? O que são milhares de jovens, trocando alianças, dando um ao outro a propriedade de seus corpos como prova de amor? Homens e mulheres, em quase pé de igualdade, tratam seus corpos como bens negociáveis. Investem neles como produtos. Parecem acreditar que pelo fato de terem voluntariamente aberto mão de seus corpos em troca de alguma coisa qualquer, uma reputação, uma grana, uma carreira, sucesso, etc., são livres. O prisioneiro voluntário não é mais livre do que aquele que foi capturado. Corpos de homens e mulheres livres não são negociáveis. Quem negocia a própria liberdade já está acorrentado. O amor à liberdade não aprisiona, nem liberta ninguém. Libere-se no aqui, neste instante, já! Invente outras liberdades inviáveis, impossíveis, inimagináveis. A única propriedade possível à liberdade é daquilo que lhe é próprio, único e inegociável. Contra a propriedade: a ação direta. E a ação direta começa no corpo." Revista semestral autogestionária do Nu-Sol