sexta-feira, 6 de agosto de 2010

“... a verdadeira cura, a transformação do mal em bem, dependerá da capacidade da verdadeira arte de fornecer às almas e corações humanos um caminho espiritual.” Rudolf Steiner

Se bons e maus sofrem igualmente, que diferença faz?

"Num argumento de aparente valor, alguém pode dizer que pouca ou nenhuma diferença faz ser “bom ou mau”, considerando que todos sofrem. Neste mundo de fato não há como escapar à dor, até porque afinal todos morremos, ao menos fisicamente. Mesmo os que deram exemplos de amor e bondade extremos, muitas vezes desencarnaram em meio a sofrimentos. Vale a pena então esforçar-nos para vencer o orgulho, a inveja e outros sentimentos daninhos? Há alguma compensação para a prática da ética, buscando não somente a harmonia nas relações, mas até a sobrevivência do planeta? Quanto à “vantagem” de ser uma pessoa melhor, mais justa, mais ética, quem chegou a esse ponto de fato não está pensando em vantagens, apenas não encontrando sentido numa prática diferente. Naturalmente só vivendo tal condição se pode concluir isso, da mesma forma que é imprescindível comer uma fruta para conhecer seu sabor. Assim como os renitentemente maus parecem fazer da maldade seu meio da vida – paradoxalmente elegendo como “bandeiras” o suplício da inveja, do rancor, da vingança – os de fato bons (não apenas aparentando essa casca em benefício do ego) externam a bondade de maneira tão espontânea como os rios deixam fluir suas águas. A bondade, como todas as manifestações do espírito, não questiona nem cobra nada por isso. Simplesmente “é”. Em conseqüência, no fundo “ser bom” não é o contrário de “ser mau”, mas apenas “Ser”. A bondade (assim como o amor, a felicidade e a ética) rigorosamente não tem oposto, como expressão da própria consciência, da Vida Una, pois o jogo da polaridade só reina no mundo material. Aprofundando, porém, a questão da vantagem - no próprio sentido material - pode-se dizer que as pessoas harmônicas, generosas, tranquilas, vivem mais e melhor, como a ciência comprova, livrando-se de males como a depressão e o estresse. De fato vivem, na essência da palavra, pois a vida tem sua fonte na Consciência Universal, em nada dependendo do corpo físico, sujeito a cortes, envelhecimento e morte. Assim, a vida se torna progressivamente mais rica, plena e bela na medida em que são quebradas as cascas do medo, do ego em busca de segurança, deixando fluir o rio de paz que mora no Espírito. Por sinal, é nessa condição de plenitude que se encontra o significado da expressão “viver intensamente o agora”, às vezes enganosamente considerada como a busca sem medidas do prazer, da glorificação dos sentidos, segundo a mente nos faz acreditar com suas habituais armadilhas e subterfúgios. Outra diferença fundamental em benefício dos que cultivam o amor e a bondade, mesmo na realidade do sofrimento, pode se resumir numa só palavra: compreensão – no sentido de percepção da “Lei de causa e efeito” – levando à aceitação das consequências. Em razão disso, bons e maus não sofrem igualmente. Os bons serenamente acatam o sofrimento, limitado então ao corpo físico – como advertência para o erro e libertação do carma – enquanto os maus rebelam-se, vendo nos outros a fonte da dor. O resultado inevitável para os maus é aumentar a dor imensamente com o sofrimento psicológico, além de diminuir sua força como elemento de consciência, levando à necessidade de viver e reviver a mesma lição muitas vezes. A sabedoria em nós começa com a percepção da tolice dessa escolha." Por Walter Barbosa, membro da SOCIEDADE TEOSÓFICA