domingo, 12 de setembro de 2010

Onde fica a felicidade?

Ela pergunta-se, acho que vendo-a de dentro e de fora é a pergunta que mais se faz. Me disse que procurou por toda parte, seguindo o ditado que ela "está dentro das pessoas", procurou no fígado, no baço, no estômago, nos rins, no intestino, nos ossos, no aparelho respiratório, no pâncreas, e ainda mais profundamente foi ao cérebro, arriscou mais ainda e foi nas veias, no sangue e não a encontrou. Disse-me que teve a coragem de ir ao coração, e também não a encontrou. E então, como um parafuso a rodar, percorreu dos pés à cabeça, e não a encontrou. Entranhou-se nas suas entranhas mais profundas e caminhos labirintosos, e não a encontrou. Pintou as unhas, arrumou o cabelo, passou batom. Achou que talvez por um instante que pudesse encontrá-la no que aparece para o mundo, mas iludiu-se. No fundo ela disse que sabia que isso seria em vão. Então me disse, triste, que é nas lágrimas, no choro que até não sai mais lágrimas, no sofrimento mais genuíno de seu eu, no contrair-se e fechar-se como uma minhoca, em formato de humano no útero, posição fetal, que ela mais sofre porque não encontra a tal felicidade. E o mais triste é que a menina sofre. Me disse ainda que não sabe se a felicidade foge dela, ou se a felicidade não existe, e mesmo se for dentro ou fora, ela tem uma única certeza, que ela não está, não é. Tenho pena da menina porque não sei se procurará mais a felicidade, ou se a felicidade a encontrará, só queria dizer à menina que às vezes a gente ri, sorri, e chora. Se há felicidade aí, eu também não sei responder. Pensando na menina, e ao escrever a palavra felicidade, pensei em seu sentido. E eu me perguntei: De onde vem? Quem inventou? E me respondi que talvez se a palavra não existisse, a menina não passaria tanto tempo sofrendo acreditando que possa encontrá-la pois, ela só busca essa tal felicidade porque ela foi inventada. Inventanda talvez por alguém bem infeliz. Simone Anjerosa de Almeida Camargo