segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O amor se preocupa em obter vantangens?

“Depende do tipo de amor”. Essa poderia ser a resposta à questão acima. A ideia de que o amor liberta é ensinamento presente em qualquer filosofia religiosa. A pesquisadora mexicana Georgina M. Flores, da Faculdade de Medicina da Unam, diz, porém: “deve-se lembrar que o desamor liberta”. Seu argumento é de que o amor leva à perda da liberdade, tornando-nos dependentes de outra pessoa. Quem já não viveu isso, tendo em algum momento experimentado as “doces tiranias” da paixão? Ora, se o amor liberta e o desamor também, só podemos estar falando de diferentes tipos de amor. Quantos existem? Partindo da idéia de que todas as manifestações da vida têm origem na Consciência Única – Deus, o Criador ou qualquer outro rótulo que se queira dar àquilo que de fato não tem nome – o amor poderia ser considerado “um só”, variando em pureza e intensidade conforme a elevação espiritual do amante. O próprio desenvolvimento humano se baseia no Princípio da Unidade, garantindo-se a “volta à Casa do Pai” pelo simples fato de que o Pai está na criatura. Mesmo com nossas terríveis falhas, continuamos aprendendo, aos poucos mudando do amor egoísta –centrado no bem do amante – para o amor que pensa antes de tudo no bem do amado. Chamando amor a sentimentos tão diferentes, incluindo o paradoxo do “amor que mata” –seja no caso de um devoto fanático de Alá ou mesmo de uma bela mulher, para a infelicidade desta – onde se enquadra o nosso próprio amor? Qual a vantagem de viver com uma pessoa? Se estamos pensando nesses termos, há amor em tal relacionamento? Especialistas têm destacado o fato de que homens e mulheres são iguais, porém diferentes. Como cidadãos e titulares de direitos nada distingue os sexos, a não ser questões específicas como licença-maternidade. Contudo, a partir de suas estruturas hormonais – gerando diferenças de comportamento – a convivência entre sexos opostos pode ser motivo de conflito ou de compreensão, de aprendizado, coisa aliás sem chance de ocorrer na trajetória relâmpago dos relacionamentos baseados em gratificação carnal. Para a pesquisadora citada, quando um indivíduo se apaixona, "são acionadas as zonas que controlam as emoções, como o tálamo, a amígdala, o hipotálamo”, dando origem a um ciclo que costuma durar um máximo de quatro anos. Isso acaba “porque o cérebro não poderia resistir a tanto desgaste se fosse mantido assim constantemente”. Então, desapaixonar-se seria uma reação de proteção do próprio organismo, aí entrando novas combinações químicas, levando inclusive ao apego quanto ao carinho familiar. Contudo, a questão é: estando apaixonados, nos preocupamos com vantagens ou ficamos cegos para tudo? Outra questão importante: esse sentimento é amor? Considerando que o amor não poderá surgir um dia instantaneamente do nada, sendo antes um trabalho progressivo da consciência dentro dos limites que o relacionamento impõe, nossas paixões egoístas acabam sendo mesmo um aprendizado do amor. Quanto às vantagens, se no extremo da paixão nada mais importa – estando a mente centrada no ente amado – no extremo do amor muito menos, pois essa é a condição natural do espírito como autossuficiente e autoiluminado, aos poucos indo do particular para o universal, do amor a uma pessoa para o amor ao todo. Pode-se tirar ou acrescentar alguma coisa ao todo? Logicamente não, daí chegando-se ao estado que liberta, por estar acima de qualquer vantagem ou dependência. Assim, um bom teste para a “qualidade” ou “tipo” do nosso amor seria nos fazermos perguntas como: “Quanto do meu amor depende das vantagens que desfruto junto à pessoa que amo? Se elas um dia forem retiradas, o amor continuará?” É perguntar e esperar, sem pressa, pela resposta. A melhor de todas é a que vem do fundo do coração." Walter Barbosa